Violência de gênero escancarada: ataques à ministra Marina Silva revelam a misoginia que atravessa a vida de todas as mulheres brasileiras

Publicado por Elas & Eu em

Na última terça-feira (27/05), durante sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado Federal, onde se discutia a proteção ambiental na Amazônia, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, foi alvo de uma série de agressões verbais marcadas por misoginia e desrespeito institucional. O episódio não foi apenas uma afronta pessoal — ele ilustra de forma alarmante o quanto a violência de gênero ainda é enraizada nas estruturas de poder no Brasil. Nem mesmo uma mulher negra, reconhecida internacionalmente e com décadas de atuação em políticas públicas, está a salvo de ser humilhada, silenciada e deslegitimada por sua condição de mulher.

Durante o debate, Marina Silva foi interrompida diversas vezes, teve seu microfone cortado pelo presidente da Comissão, senador Marcos Rogério (PL-RO), e escutou palavras que ultrapassaram os limites do respeito, do decoro e da ética institucional. Em determinado momento, o senador disse à ministra para que “se pusesse em seu lugar” — uma frase carregada de conotação autoritária e machista, que ecoa uma longa história de tentativas de reduzir a presença feminina nos espaços de decisão.

O momento mais estarrecedor, contudo, veio do senador do Amazonas Plínio Valério (PSDB-AM), que em um ataque direto e deliberadamente ofensivo, afirmou desejar separar “a ministra da mulher”, porque “mulher merece respeito, a ministra não”. Com essa declaração, o senador não apenas desrespeitou Marina Silva, mas expôs um padrão de violência simbólica que busca desumanizar mulheres em posições de liderança, como se o exercício do poder político as tornasse alvos legítimos de agressões sexistas.

Essa não foi a primeira vez que Plínio Valério se dirigiu a Marina de forma violenta. Em 14 de março, durante cerimônia da Fecomércio, o mesmo senador já havia feito uma declaração inadmissível: “Imagine o que é tolerar Marina 6 horas e dez minutos sem enforcá-la”. A naturalização desse tipo de fala não apenas agride uma pessoa, mas valida um sistema de opressão que banaliza o discurso de ódio contra as mulheres.

Diante das ofensas, Marina Silva exigiu um pedido público de desculpas, que não foi atendido. Em um gesto de dignidade e coragem, ela se retirou da sessão. Posteriormente, em entrevista coletiva e nas redes sociais, a ministra denunciou a violência política de gênero que sofreu: “Após mais uma agressão do senador Plínio Valério, lhe dei a opção de pedir desculpas, mas ele se negou. Por isso me retirei da sessão. Não posso aceitar ser agredida e não posso me calar quando atribuem a mim responsabilidades que não são minhas”, disse Marina.

Esse caso é mais do que um episódio isolado. É reflexo de uma estrutura política ainda marcada por práticas patriarcais que tentam calar, subestimar e expulsar as mulheres dos espaços de poder. Quando uma ministra de Estado é tratada com esse nível de hostilidade, o que se diz, implicitamente, é que todas as mulheres brasileiras — em qualquer esfera da vida — estão vulneráveis à mesma violência.

O que ocorreu com Marina Silva não é apenas um ataque à sua figura política, mas um atentado à democracia, à igualdade de gênero e ao direito das mulheres de ocuparem espaços públicos sem serem alvo de misoginia. A resposta institucional a esses atos precisa ir além da solidariedade: é urgente que o Congresso Nacional e a sociedade brasileira reconheçam, enfrentem e punam esse tipo de violência. Porque quando uma mulher é silenciada, todas as vozes femininas são ameaçadas.

Por @mairapessoa_

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