Mães em Alerta: O parto que não te contaram

Publicado por Elas & Eu em

Por @mairapessoa_

Maio é o mês das mães. É tempo de homenagens, lembranças e celebrações da vida, mas, para muitas mulheres, o momento do parto, que deveria ser o auge de uma jornada de amor e expectativa, se torna uma experiência traumática. A violência obstétrica, ainda silenciosa e subnotificada, é um problema de saúde pública urgente e real, que precisa ser enfrentado com coragem e empatia.

No Brasil, a violência obstétrica é camuflada sob a categoria genérica de “outras violências” nas fichas de notificação de saúde, dificultando a transparência nos dados e, consequentemente, a criação de políticas públicas eficazes. Em vez de acolhimento, muitas mulheres enfrentam negligência, omissão de socorro, humilhações verbais e procedimentos invasivos desnecessários.

Gabriela Martins, (pseudônimo) dona de casa, relembra com dor o parto que marcou sua vida para sempre. “Sofri por horas em trabalho de parto, completamente esgotada. Quando meu filho coroou, ninguém me ajudou. Ele caiu da maca e morreu. Foi uma negligência extrema”, desabafa. O que deveria ser o momento mais sublime de sua maternidade se transformou em luto.

Patrícia Lima, de 21 anos, que também enfrentou um momento de extremo sofrimento ao dar à luz em uma maternidade pública de Manaus. “Quando as dores começaram, eu estava assustada, mas achava que tudo seria normal. Só que, assim que percebi o descaso, o medo tomou conta. Gritei, chorei, implorei por ajuda… Meus gritos eram minha defesa”, relembra Patrícia, com a voz embargada.

Ela conta que, em meio ao desespero, uma enfermeira tentou silenciá-la colocando um pano sobre sua boca, enquanto outra pressionava sua barriga com força, e dois médicos insistiam em realizar uma episiotomia sem consentimento. “Eu e o meu marido gritamos com eles. A gente sabia que aquilo era violência. Eles se assustaram com a nossa reação. Felizmente, consegui ter meu filho por parto normal, e hoje ele está com 1 aninho, mas jamais vou esquecer o pânico que senti. Foi para ter sido o momento mais bonito da minha vida — e quase virou um pesadelo”, lembra.

Patrícia alerta outras mulheres: “A violência obstétrica não é só física. Agressões morais e verbais, como ignorar os pedidos da parturiente, forçar procedimentos sem consentimento, como romper a bolsa, aplicar medicamentos para acelerar contrações ou fazer corte desnecessária, também são formas de violência. Precisamos denunciar, porque só assim as políticas públicas vão mudar”

No Amazonas, histórias como as de Gabriela e Patrícia, marcadas por experiências dolorosas durante o parto, infelizmente não são exceção. Para enfrentar essa realidade, desde 2024, a Secretaria de Estado da Saúde implantou o Vivo+ — Vigilância da Violência Obstétrica, um projeto pioneiro no Brasil que lança luz sobre a qualidade da assistência obstétrica na rede pública amazonense.

Mais do que números, o projeto coleta relatos e dados que servirão de guia para transformar o cuidado com gestantes, oferecendo subsídios concretos para melhorar os serviços de saúde e garantir partos mais humanizados.

A secretária da SES-AM, Nayara Maksoud, destaca a inovação da iniciativa. “O Vivo+ é um projeto inédito no país. É um conjunto de ações voltadas para melhorar a qualidade da assistência ao parto e combater a violência obstétrica. Aqui no Amazonas, defendemos o protagonismo da mulher nesse momento tão marcante da vida. Queremos uma mãe saudável, um recém-nascido saudável e, acima de tudo, um parto respeitoso.”, reforça a secretária.

Você não está sozinha

Se você passou por alguma situação de descaso, negligência ou violência durante o pré-natal, parto ou pós-parto, saiba que há ajuda disponível.

Em Manaus, a Organização Não Governamental (ONG) Humaniza Coletivo Feminista – Violência Obstétrica Manaus atua diretamente no acolhimento, orientação e encaminhamento de denúncias. A organização oferece suporte emocional e jurídico para mulheres que enfrentaram essas violações em serviços de saúde.

Como buscar apoio: Basta enviar uma mensagem relatando o ocorrido. A equipe está preparada para te ouvir e te orientar com empatia e respeito.

Redes sociais: Instagram: @humaniza.coletivofeminista/ Facebook: Humaniza Coletivo Feminista

E-mail: humaniza.coletivofeminista@gmail.com

Você tem o direito de ser respeitada. Denunciar é um ato de coragem e transformação.

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